Sábado, 27 de Julho de 2024

O Brasil não pode adormecer jamais
Reflexão acerca do saldo obtido diante das manifestações recentes

Por ARQUIMEDES DE CERQUEIRA JUNIOR

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Muitos dizem que o Brasil acordou, mas vou além: não
pode adormecer jamais. “Deitado eternamente em berço
esplêndido”
desde o impeachment do ex-presidente Fernando
Collor de Melo, há aproximadamente 21 anos, o País acorda ao “Som
do mar e à luz do céu profundo”,
ah! Como seria bom se esse
fosse o motivo, mas não foi bem assim. O despertar foi inesperado e
tardio, porém capaz de levar às ruas o descontentamento de uma
sociedade cansada com o rumo que vem tomando esse “Gigante pela
própria natureza”
.

As manifestações recentes é bem diferente daquelas
ocorridas em meados dos anos 80 e início dos anos 90, “DIRETAS
JÁ e FORA COLOR”,
respectivamente. Enquanto a primeira
buscava a eleição direta para a Presidência da República –
clamor de uma sociedade que buscava a liberdade de expressão
– a segunda lutava para o impeachment do então Presidente Fernando
Collor de Melo. Esta última, apoiava-se – além de denúncias
de corrupção
-, também, nas velhas intrigas e disputas
político-partidárias, bem como na insurgência de novas lideranças,
evidenciadas pelas cores das bandeiras de diversas agremiações
(políticas, estudantis, movimentos sociais, etc) hasteadas na
época.

As incursões realizadas em várias cidades dessa “Terra
Adorada”
ganharam o mundo, pois o pano de fundo não se resumia
ao aumento das passagens, e sim às péssimas condições de vida que
o “Sistema” dispensa à sociedade. A corrupção e a inoperância
do Estado – aliadas à inércia do governo na busca de uma
proposta plausível que atenda ao anseio da nação, motivada pela
incapacidade institucional, intencional ou não
– despertaram o
sono profundo de uma população representada tão somente pelas
cores “verde e amarela”, tendo em vista a ausência de bandeiras
partidárias, comum em diversas outras ocasiões.

Em um País onde prevalece o Estado Democrático de
Direito, o exercício da Democracia e da Cidadania, reflete o estado
de amadurecimento em que o mesmo se encontra. O povo que foi às ruas
demonstrou mais uma vez civilidade durante à realização das
manifestações, salvo em alguns casos pontuais de selvageria
promovidos por baderneiros e marginais. A legitimidade das ações do
chamado Movimento Passe Livre – MPL, fora reconhecida justamente pela
unanimidade de um grupo que reivindicava pacificamente a mudança do
atual Sistema de Gestão que conduz o Brasil, especialmente na
prestação dos serviços de primeira linhagem (transporte, saúde,
educação, segurança, etc) que têm influência direta na qualidade
de vida da população.

Ainda em relação ao movimento “pacífico”, pôde-se
perceber que alguns partidos, aproveitando-se do ensejo, tentaram
impor o desfile dos seus blocos nas ruas – na tentativa de buscar
notoriedade para eleições vindouras – sendo imediatamente impedidos
pelos organizadores do MPL. Em decorrência dessa atitude o movimento
consolidou de forma honrosa a sua legitimidade, pois mostrou à
sociedade que as manifestações não eram endereçadas a um partido
político, e sim ao descaso dos poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário.

Diante do exposto acima, tiramos uma lição: A luta
é árdua, mas vale a pena
! Acima mencionei a respeito da inércia
do governo, porém percebemos que após a realização desses
“eventos” os nossos representantes mostraram-se capazes de
reagir de maneira positiva, mesmo sob pressão. Em poucos dias a
guarda foi aberta para estabelecer a tão aguardada interlocução (agenda positiva). Após o diálogo, o governo, digo em todos os
âmbitos (federal, estadual e municipal) e poderes (executivo,
legislativo e judiciário), tratou, contrariando o princípio da
inércia, de se reunir com os seus pares para traçar propostas que,
segundo eles, culminarão com a efetivação das tão sonhadas
reformas. Entretanto, acredito que não seja fácil, mesmo para um
Governo que tem a maioria no Congresso.

No entanto, sob pressão sistemática (como vem
acontecendo) e pondo à prova a credibilidade institucional, a
situação se reverterá a nosso favor, pois certamente a sociedade
optará pela queda do voto secreto quando da realização do
plebiscito ou referendo, deixando vulnerável aqueles que insistem em
se manter apenas no poder, contrariando impunemente os princípios
éticos norteadores da moral e da conduta.

O alicerce para o resgate desse país está diretamente
vinculado à aprovação de uma Reforma Política onde a punibilidade
seja sumária e transparente, afinal somos os maiores interessados na
punição dessa corja. A reforma tem que acontecer, justamente para
enquadrar aqueles que legislam em causa própria, sem se preocupar
com o que pensa o cidadão que nele depositou o voto. Além da
necessidade da queda do voto secreto, devemos nos atentar para as
perguntas que serão feitas no Plebiscito ou Referendo, tendo em
vista o corporativismo velado, principalmente em relação aos
financiamentos de campanha “por fora” (falta de vínculo oficial
entre o agente financiador e o beneficiário), já que após a
concretização do êxito obtido, ou seja, a eleição de um
determinado político, os lobistas, a mando de grupos empresariais,
entram em campo cobrando os intermináveis favores, quase sempre
movidos pela ilicitude dos seus atos, vitimando ainda mais a
sociedade.

Após a política, que venham as outras reformas.
Contudo, temos que buscar a forma correta de separar o joio do trigo
para que um dia, ano após ano de lapidação, seja possível
atingirmos o esperado grau de pureza, haja vista o estado bruto em
que se encontra essa “rocha”, ainda debutante, de 513 anos.
Apenas para reforçar o meu pensamento no parágrafo acima: Lembra-se
da PEC 37? Interessante a celeridade! Ela caiu. Mais interessante
ainda a votação 430 contra e 09 a favor. Será que cairia sem os
gritos ecoados das ruas…Vamos gritar, gritar, porque eles só se
consideram deficientes por conveniência, não devemos entrar em
processo de hibernação política, apenas cochilar para termos
discernimento e energia para repensar qual será o próximo passo a
ser tomado. A cartilha é nossa, a reza é deles…Basta fazê-los
ajoelhar e orar, se possível, em cima de grãos de milho como forma
de calejar o seu delicado joelho, visando depurar os males causados
ao povo ao longo dos anos.

Portanto, a luta é árdua, vale a pena e deve
continuar sempre
, pois é a única arma que temos para coibir as
mazelas daqueles que são remunerados para resguardar os interesses
de uma nação. Vamos fazer valer o prenúncio registrado por Joaquim
Osório Duque Estrada: “verás que um filho teu não foge à
luta”.