O Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários (SindPFA), entidade representativa dos Engenheiros Agrônomos que compõem o quadro do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), vem a público manifestar sua preocupação acerca da reforma da Previdência (Proposta de Emenda à Constituição nº 6/2019) sugerida pelo atual Governo. O Incra atende a quase 1 milhão de famÃlias pelo Programa Nacional de Reforma Agrária em milhares de municÃpios brasileiros e, por vivenciar a realidade destes municÃpios e de famÃlias de trabalhadores rurais, causa-nos sérias preocupações o impacto negativo que a reforma – caso seja aprovada tal como está – trará a este conjunto.
Os trabalhadores rurais possuem uma vida laboral intensa e distinta da população urbana: comumente começam a trabalhar ainda crianças, e as horas sob o sol estendem-se pelos 7 dias da semana – inclusive aos domingos e feriados. O trabalho pesado também é responsável pelo adoecimento fÃsico precoce. Logo, não é razoável que este segmento de trabalhadores tenha sua idade mÃnima para aposentadoria estendida para 60 anos e muito menos que as mulheres trabalhadoras do meio rural tenham suas idades mÃnimas para se aposentarem equiparadas à dos homens. Elas são as primeiras a se levantarem e as últimas a se deitarem, pois acumulam a atividade produtiva na terra com as atividades domésticas. A reforma proposta dificultará a aposentadoria deste segmento e o condenará a trabalhar por toda a vida sem a esperança de alcançar a justa aposentadoria pelo importante e árduo trabalho desenvolvido – o de cultivar os alimentos que vão à mesa dos brasileiros.
Cerca de um terço dos recursos previdenciários são utilizados para sustentar e apoiar os investimentos dos agricultores familiares do paÃs. Estes recursos acabam substituindo a falta de investimentos públicos em créditos, assistência técnica e educação – fundamentais para a sustentabilidade da agricultura familiar. Além disso, garantem à s famÃlias permanecerem em suas terras até a velhice, pois o passar dos anos impede que o trabalho seja desenvolvido com todo o vigor e a intensidade necessários para um razoável salário mensal.
Além de garantirem a sobrevivência e existência das famÃlias agricultoras, os benefÃcios previdenciários também são motores à s economias dos municÃpios – sobretudo aqueles com população menor de 50 mil habitantes. O Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG) analisou os dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE) sobre a Previdência Social e concluiu que 88% dos municÃpios brasileiros se encaixam nessa faixa. Neles, mais da metade dos benefÃcios são de origem rural, o que explicita a dependência dos benefÃcios previdenciários para manutenção de suas economias. Em 70% dos municÃpios brasileiros os benefÃcios da Previdência Social suplantam o valor que recebem pelo Fundo de Participação dos MunicÃpios (FPM). Isso significa dizer que muitos deles estarão fadados ao colapso financeiro, caso a proposta de reforma seja aprovada nos termos propostos.
Isso sem contar que a população rural poderá migrar massivamente para os centros urbanos – que já se encontram com inchaço populacional, poucas oportunidades de emprego e infraestrutura insuficiente para atender até mesmo a população existente. A migração poderá ainda trazer como consequência a insegurança alimentar no PaÃs, haja vista que os trabalhadores rurais são os responsáveis por produzir e cultivar os itens básicos da alimentação brasileira, conforme o IBGE.
Desta feita, o SindPFA alerta para os riscos da aprovação da reforma da Previdência tal como proposta, sob pena de comprometer a sobrevivência dos trabalhadores rurais, a saúde econômica dos municÃpios de predominância rural e, em última escala – mas não menos importante –, a segurança alimentar do conjunto da população brasileira. Por isso, exorta a sociedade, o Governo e o Congresso Nacional a discutirem termos menos danosos e mais justos a esse importante segmento do PaÃs.